Atletas são treinados pela campeã mundial Cátia Portilho e já conquistaram diversas medalhas em halterofilismo paralímpico e powerlifting adaptado.
Mylena Lemos tem 18 anos e nasceu com má formação congênita. Rossana Rocha, 43, com paralisia cerebral. Edmilson Conceição, 33, possui atrofia muscular. Thiago Baptista, 34 anos, tem a perna direita e o pé esquerdo amputados. O que essas pessoas têm em comum vai muito além das deficiências. Todos são medalhistas em campeonatos federados de halterofilismo paralímpico e powerlifting adaptado.
Isso se deve ao Instituto Victorem, uma organização sem fins lucrativos que transforma pessoas com deficiência em atletas de alto rendimento. Fundado no Rio de Janeiro em 2018 pelo administrador de empresas Gustavo Brito e pela educadora física e campeã mundial Cátia Portilho, o Instituto Victorem leva em seu nome uma nobre missão: a vitória.
Em 2022, por exemplo, Thiago foi campeão de supino paralímpico, no mundial de powerlifting realizado na Eslováquia. Ano passado, Mylena foi medalha de ouro no Parapan de jovens, em Bogotá. A equipe também foi medalhista no mundial de powerlifting realizado no Brasil. Thiago, Mylena, Edmilson e Rossana conquistaram o ouro e bateram os recordes em suas categorias.
Para transformar esses atletas em campeões, Cátia Portilho, que também continua competindo e detém 17 títulos mundiais, realiza todo o treinamento. Além disso, o instituto oferece atendimento psicológico, fisioterapeuta, médico clínico geral e nutrólogo. “E quando os atletas começam a participar das competições, toda a logística é por nossa conta. Uma vez que esse atleta for para o pódio, no mês subsequente ele já começa a receber uma bolsa”, afirma o presidente do instituto Gustavo Brito.
Instituto Victorem
Gustavo Brito era um conceituado empresário quando resolveu investir no setor de academias no Rio de Janeiro. Foi lá que ele conheceu Cátia Portilho. “Ela treinava em uma das minhas academias, e conversando, surgiu essa vontade de aproveitarmos aquele espaço para desenvolver um projeto social”, recorda-se Gustavo.
O objetivo de usar o esporte para transformar a vida de pessoas com deficiência não surgiu por acaso. Cátia é especializada em educação física adaptada. Ela teve um irmão que sofreu um acidente, ficou com deficiência, entrou em depressão profunda e cometeu suicídio. Gustavo Brito teve uma irmã que nasceu com paralisia cerebral e ele próprio possui epilepsia.
A partir de suas histórias de vida, eles encontraram o propósito do Instituto Victorem. Os recursos do projeto, no entanto, eram limitados. Por isso, optaram em trabalhar principalmente com atletas de alto rendimento. “Tivemos que fazer essa escolha, focar em quem gera resultados, para conseguir patrocínio. Além disso, a Cátia já treina atletas de alta performance, que exige uma dedicação intensa. Então optamos por buscar pessoas realmente engajadas, que estivessem na mesma frequência que a nossa”, explica.
Atletas PCD de alto rendimento
Em 2021, Gustavo Brito acabou fechando as academias por causa da pandemia, porém, conseguiu uma parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro para manter o projeto social ativo. Por meio de um acordo de cooperação, o Instituto Victorem foi instalado no Parque Olímpico e, hoje, os atletas treinam na Arena 2 Carioca, na Barra da Tijuca.
Atualmente, quatro atletas participam do projeto, dedicando-se exclusivamente ao esporte graças ao apoio das bolsas oferecidas pelo instituto e pelo governo federal. “Todos nossos atletas recebem bolsa do Instituto, sendo que dois também recebem bolsa do governo, um deles, a nível internacional”, diz Gustavo.
O treinamento é feito todas as segundas, quartas e sextas, das 13 às 17 horas. Para se inscrever, basta entrar no link Seja um atleta, no site do Instituto Victorem, se cadastrar e anexar o laudo da deficiência. Lembrando que para o halterofilismo paralímpico, apenas as deficiências de membros inferiores são classificáveis: nanismo, amputações, lesionados medulares, sequelas da paralisia infantil e paralisia cerebral.
O link fica ativo o ano todo e também é divulgado nas redes sociais do instituto. “Se for uma deficiência classificável para o esporte, a pessoa inscrita entra na triagem e, à medida que vamos conseguindo recursos, chamamos novos assistidos. A Cátia convida para uma conversa junto com a psicóloga e por fim fazemos um teste de aptidão ao esporte”, indica Gustavo.
Transformação e inclusão social
Além do treinamento e todo suporte aos atletas, o instituto também promove o Victorem Games e o Campeonato Carioca de Powerlifting, onde pessoas com e sem deficiência competem em suas distintas categorias. O campeonato é feito em parceria com a Confederação Brasileira de Powerlifting e já está em sua segunda edição.
Para fortalecer suas ações, o Instituto Victorem está em processo de certificação como clube formador, por meio da Lei 9.615/98, mais conhecida como Lei Pelé, de desenvolvimento e democratização do esporte. Também iniciou este ano a captação de recursos através da lei de incentivo ao esporte, tanto federal quanto estadual e teve o projeto aprovado para participar das metas ESG do grupo Priner, empresa de engenharia e manutenção industrial com capital aberto na B3.
Se o esporte é capaz de causar impacto social?
“A Mylena chegou no instituto com 15 anos. O processo de seleção não estava aberto, mas nós a acolhemos a pedido da mãe. Mylena estava num quadro de depressão severo, pensando em cometer o suicídio. Ela nunca tinha praticado esporte e hoje é uma das principais referências do Comitê Paralímpico Brasileiro”, lembra-se Gustavo.
Não resta dúvidas, portanto, de que o esporte transforma vidas. “No futuro, queremos ampliar o treinamento para o judô, natação e atletismo”, diz entusiasmado.